Imunoalergologista
HPA Magazine 12
A rinite alérgica é uma doença inflamatória crónica do interior do nariz. É provocada pela resposta exagerada do nosso sistema imunitário a partículas microscópicas inofensivas presentes no ar, chamadas alergénios.
Os sintomas mais frequentes de rinite alérgica são os espirros, a comichão e pingo no nariz e a congestão nasal. Muitas vezes o excesso de secreções nasais que escorrem para a garganta também provoca tosse ou incómodo a engolir. A rinite está associada a outras doenças respiratórias como a sinusite, a conjuntivite e a asma alérgicas. Estima-se, por exemplo, que cerca de 40% dos doentes com rinite sofram também de asma.
A rinite é das doenças crónicas mais frequentes das vias aéreas. Em Portugal, pensa-se que entre 16 a 26% da população sofra desta doença. As crianças são um grupo particularmente afetado, uma vez que a rinite interfere com a qualidade do sono e com a concentração escolar.
Em Portugal, os principais alergénios responsáveis pelos sintomas de rinite são os ácaros do pó doméstico e os pólenes.
Os ácaros são artrópodes da classe dos Aracnídeos, tal como as aranhas e os escorpiões. Existem ácaros em todos os continentes e a sua presença depende sobretudo da humidade e da temperatura da região.
Entre as principais espécies de ácaros estudadas pelo seu potencial alergénico destacam-se os Dermatophagoides e os Lepidoglyphus.
Vivem sobretudo no pó doméstico, uma vez que, por um lado, este contém queratina (proveniente de células mortas da pele humana), que lhes fornece uma fonte de alimento e, por outro, as habitações apresentam geralmente uma temperatura estável e uma humidade relativa elevada.
Encontram-se principalmente em locais onde existe maior contacto com a nossa pele, como colchões, almofadas, cobertores e sofás e em objetos que acumulam pó com facilidade, como livros, peluches, alcatifas e cortinados.
Os sintomas dos doentes alérgicos estão relacionados com a quantidade de ácaros presentes. Devido aos maiores níveis de humidade no ar, os seus números aumentam durante o outono e inverno e, por isso, este é normalmente o período onde ocorrem sintomas mais intensos. Ainda assim, podem existir em número suficiente para provocar sintomas na primavera e até no verão.
É impossível eliminar completamente os ácaros das nossas casas. A estratégia mais eficaz passa por tentar criar condições pouco favoráveis para a sua presença e por manter hábitos regulares de limpeza, para que o seu número possa ser controlado.
Devido ao tempo que é passado no quarto de dormir, esta é normalmente a divisão da casa mais importante para intervir. Devem ser evitados tapetes grossos, alcatifas e cortinados pesados. O chão, o colchão e as almofadas devem ser aspirados regularmente, idealmente com um aspirador com filtro HEPA (High Efficiency Particulate Air). Existem aspiradores pouco dispendiosos equipados com este filtro, tanto com saco de pó tradicional quanto com filtro de água. É também recomendado optar por um colchão anti ácaros e, se possível, envolver as almofadas e o edredão em coberturas impermeáveis e laváveis. Os lençóis de flanela, cobertores de lã e edredões de penas normalmente acumulam mais ácaros que o linho ou o algodão. Para a sua lavagem é conveniente utilizar um programa quente (superior a 55ºC) para eliminar eficazmente os ácaros. Convém recordar que aparelhagens de música, TVs, computadores, consolas de jogos, livros, decorações, brinquedos e especialmente peluches acumulam facilmente pó. Caso existam peluches que não possam ser lavados a altas temperaturas, os ácaros podem ser eliminados deixando-os 24horas num saco, no congelador.
Os pólenes são um conjunto de grãos minúsculos, geralmente invisíveis a olho nu, produzidos por plantas com o objetivo de fertilizar à distância.
Nem todos os pólenes provocam alergias. Os pólenes habitualmente responsáveis por sintomas de alergia pertencem às espécies das gramíneas, ervas daninhas e árvores que polinizam utilizando o vento (anemofilia), em vez de dependerem do seu transporte por insetos (entomofilia). Os pólenes anemófilos são mais numerosos, mais leves, o que facilita o seu transporte pelo vento, e mais pequenos, pelo que conseguem entrar no nosso aparelho respiratório mais facilmente. Os pólenes entomófilos de flores coloridas, como as rosas e orquídeas, o pólen visível a olho nu, como o do pinheiro, e elementos vegetais como o “algodão do choupo” são demasiado grandes e pesados para entrarem nas vias aéreas, daí que muito raramente provoquem sintomas alérgicos.
A concentração de pólenes na atmosfera depende da polinização de cada espécie e das condições geográficas e atmosféricas ao longo do dia e em cada ano.
A quantidade total de pólenes é maior nos dias quentes, com sol e vento e o pico máximo é habitualmente atingido próximo do meio-dia ou início da tarde. A quantidade de pólenes é menor nos dias de chuva, pois os pólenes são arrastados para o chão. Existem menores concentrações no ar no início da manhã e ao final da tarde e noite. Os locais junto ao mar têm níveis de pólen mais baixos que o interior.
Em Portugal, a maioria dos pólenes existem na atmosfera entre março e julho. É possível consultar os níveis de pólenes através do Boletim Polínico disponível online.
Não é possível evitar uma completa exposição aos pólenes no meio exterior, no entanto, algumas medidas permitem alguma proteção e minimização de sintomas.
É por isso recomendado, nos períodos de elevada concentração de pólenes, evitar atividade física intensa ao ar livre, especialmente em dias quentes com vento forte. A utilização de óculos pode prevenir sintomas oculares no exterior. Em viagens de carro ou comboio é aconselhado manter as janelas fechadas. No caso de ser utilizada uma motorizada, utilizar capacete integral.
Após chegar a casa é importante mudar de roupa e sacudir o cabelo ou, idealmente, tomar um banho. Recomenda-se manter as janelas fechadas nos dias com maior concentração polínica e só arejar a casa durante a noite ou nas primeiras horas da manhã. A roupa que fica a secar ao ar livre pode também transportar consigo pólenes para o interior da casa.
Os animais domésticos podem também transportar ácaros ou pólenes no seu pelo (sobretudo para camas, tapetes e sofás). Por esse motivo, poderá justificar-se, em alturas de maior concentração de alergénios, dar banhos mais frequentes e limitar o seu acesso aos quartos.
Estas medidas podem diminuir significativamente a exposição a alergénios e, desta forma, diminuir também os sintomas provocados pela alergia. Em alguns casos, pode ser necessário complementar estas estratégias com medicação antialérgica. É recomendado consultar o seu médico de família ou um imunoalergologista para o diagnóstico e tratamento da rinite alérgica.